futuro da advocacia

O futuro da advocacia: como as mulheres estão moldando a era da advocacia híbrida

Durante séculos, a advocacia foi marcada pela presença física: pilhas de processos, salas de audiência, reuniões presenciais e a rotina dos grandes escritórios como símbolo de prestígio e poder. A imagem do profissional do Direito estava atrelada a formalidades, o espaço físico do escritório era a representação concreta da autoridade jurídica.

Mas o mundo mudou e o Direito, inevitavelmente, mudou junto.

A digitalização acelerada provocada pela pandemia de 2020 não apenas reconfigurou o modo como trabalhamos, mas introduziu um novo paradigma de funcionamento: o modelo híbrido. Mais do que uma simples combinação entre o presencial e o remoto, a advocacia híbrida tornou-se um símbolo de adaptação estrutural, autonomia e inovação.

Em um cenário onde escritórios operam em nuvem, audiências são realizadas por videoconferência e networking se dá nas redes digitais, o perfil do profissional jurídico precisa ser repensado.

O futuro da advocacia não se resume à tecnologia, ele é sobre quem ocupa os espaços de decisão e como conduz as transformações.

O que é advocacia híbrida e o que ela representa

A advocacia híbrida é a convergência entre o físico e o digital. É o modelo que permite que advogadas e advogados transitem entre o escritório e o ambiente remoto com flexibilidade, eficiência e propósito.

Segundo a AB2L (Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs), em levantamento de 2023, mais de 70% dos escritórios brasileiros já adotam alguma modalidade de trabalho híbrido ou remoto. Esse número, que antes era uma exceção, tornou-se a regra.

O modelo não é apenas uma tendência, é uma resposta inevitável às novas dinâmicas do mercado jurídico.

Entre os principais benefícios apontados por profissionais e gestores estão:

  • Aumento de produtividade e foco em resultados;
  • Redução de custos operacionais e de deslocamento;
  • Maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional;
  • Maior inclusão geográfica e diversidade de talentos.

Por outro lado, surgem novos desafios: manter a cultura organizacional, garantir a formação de equipes coesas e preservar a qualidade da comunicação em um ambiente virtual.

É nesse equilíbrio entre eficiência e pertencimento que a advocacia híbrida se consolida como o novo normal do Direito.

A transformação digital e o impacto sobre as carreiras femininas

O impacto da digitalização sobre a advocacia feminina é profundo. Historicamente, as mulheres precisaram conciliar múltiplas jornadas: a profissional, a doméstica e, muitas vezes, a emocional.

O modelo híbrido surge como uma oportunidade concreta de equidade, ao permitir que o desempenho seja medido por entrega e não por presença física.

Pesquisas do IBGE (2022) apontam que mulheres gastam, em média, 21 horas semanais a mais do que homens em tarefas domésticas e de cuidado. Essa sobrecarga sempre representou uma barreira invisível para o avanço das mulheres em cargos de liderança no Direito.

Com o trabalho remoto e híbrido, parte dessas barreiras se atenua: há mais flexibilidade de horários, menos tempo perdido em deslocamentos e maior autonomia para organizar o próprio ritmo.

Mas há um paradoxo: quanto mais invisível a mulher se torna fisicamente, maior o risco de invisibilidade institucional. Estudos da Harvard Business Review (2023) mostram que mulheres em trabalho remoto tendem a receber menos promoções e convites para liderar projetos estratégicos, mesmo com desempenho igual ou superior.

Isso reforça um ponto central: equidade exige intencionalidade. Não basta que mulheres estejam presentes; é preciso que estejam visíveis, reconhecidas e em posição de influência.

O desafio da visibilidade e o poder da presença digital

Se antes o prestígio profissional era construído nas salas de audiência, hoje ele também se constrói nas plataformas digitais. A presença online tornou-se uma extensão do currículo, e a forma como uma profissional se posiciona nas redes, especialmente no LinkedIn, pode determinar como é percebida pelo mercado.

Para as mulheres do Direito, esse é um espaço de empoderamento. Publicar artigos, participar de discussões e compartilhar aprendizados são formas de transformar conhecimento em autoridade.

O WLM reconhece isso como uma ferramenta estratégica de protagonismo. A associação estimula suas integrantes a contribuírem com conteúdos para o blog oficial e a newsletter do LinkedIn, fortalecendo a presença das mulheres no debate público e na produção intelectual.

Quando mais mulheres publicam, ensinam e se expressam, o ecossistema jurídico se torna mais plural, acessível e humano.

De onde viemos: o modelo tradicional e suas limitações

Durante décadas, o sucesso na advocacia foi medido por métricas tangíveis: número de clientes, horas faturáveis e tamanho do escritório. A carreira era linear, hierárquica e, na maioria das vezes, masculina.

Mulheres precisavam provar continuamente seu valor, primeiro, para entrar; depois, para permanecer; e, por fim, para ascender.

O modelo híbrido surge como ruptura e continuidade: ele desafia o status quo sem apagar o que foi construído, mas propõe uma nova lógica, mais colaborativa, mais horizontal, mais adaptável.

A inovação tecnológica, quando aliada à equidade, transforma o Direito em um ambiente mais democrático, onde o conhecimento e a empatia passam a ter o mesmo peso que a presença física.

Formação e novas competências: o que o futuro exige

A advocacia híbrida demanda habilidades que extrapolam o domínio técnico. As soft skills, como comunicação empática, inteligência emocional e gestão de tempo, tornaram-se tão valiosas quanto o conhecimento jurídico tradicional.

Pesquisas da World Economic Forum (2024) apontam que, até 2030, 85% das profissões exigirão competências digitais e relacionais. Na advocacia, isso significa dominar não apenas leis, mas também dados, tecnologia, gestão de equipes e processos automatizados.

O profissional do futuro precisa entender:

  • Como a inteligência artificial influencia decisões jurídicas;
  • Como lidar com dados sensíveis e compliance digital;
  • Como liderar equipes distribuídas e multiculturais;
  • Como equilibrar eficiência tecnológica e ética profissional.

E as mulheres têm se destacado nesse cenário por uma razão: habilidades empáticas e colaborativas são as mais valorizadas em ambientes híbridos. A liderança feminina, pautada pela escuta ativa e pela construção coletiva, é exatamente o que o futuro do Direito precisa.

O papel da segurança psicológica em ambientes híbridos

Nenhuma estrutura tecnológica é suficiente sem o componente humano. Ambientes híbridos, se não forem bem conduzidos, podem gerar isolamento, ansiedade e falta de pertencimento.

A segurança psicológica, conceito popularizado por Amy Edmondson (Harvard Business School), é a base de uma cultura saudável. Ela ocorre quando profissionais se sentem seguros para expressar ideias, admitir erros e propor mudanças sem medo de retaliação.

Ambientes híbridos só prosperam quando existe confiança, empatia e transparência, e essa é uma pauta que o WLM defende com firmeza.

A importância da mentoria e das redes de apoio

A trajetória feminina no Direito raramente é linear. O avanço de uma mulher costuma vir acompanhado de resistência, comparação e cobranças desproporcionais. Por isso, a presença de mentoras é essencial.

Estudos da McKinsey & Company (2023) mostram que mulheres que participam de programas de mentoria têm 20% mais chances de alcançar cargos de liderança e relatam maior satisfação profissional.

A rede de apoio não é apenas emocional, é estratégica. Ela cria conexões, visibilidade e oportunidades concretas.

No WLM, os Grupos de Trabalho e de Estudos funcionam como laboratórios de protagonismo. Neles, as associadas discutem temas jurídicos, constroem projetos e fortalecem a representatividade feminina no ecossistema jurídico.

A troca entre gerações e perfis profissionais é o que transforma o aprendizado em impacto.

Desigualdade ainda é um dado, não uma opinião

Apesar dos avanços, as desigualdades de gênero permanecem estruturais. De acordo com o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), apenas 38% dos magistrados brasileiros são mulheres, e a proporção cai para 25% entre desembargadoras. Nos tribunais superiores, a presença feminina ainda não chega a 20%. Esses números mostram que a equidade formal não garante equidade real.

Mesmo com conquistas importantes, como a paridade nas eleições da OAB e o aumento de mulheres em coordenações acadêmicas, a tomada de decisão no Direito ainda é majoritariamente masculina.

É por isso que o WLM insiste: não basta presença, é preciso influência. Protagonismo é quando a mulher não apenas ocupa um assento à mesa, mas participa da construção da agenda e das decisões que moldam o futuro.

O futuro é coletivo

O futuro da advocacia não pertence a quem domina apenas a norma, mas a quem compreende o contexto. Pertence a quem consegue conectar tecnologia e humanidade, eficiência e ética, propósito e resultado.

E as mulheres têm liderado essa virada com uma habilidade singular: a de equilibrar razão e empatia, firmeza e colaboração, técnica e visão de futuro.

A advocacia híbrida é mais do que um formato de trabalho, é a metáfora de um tempo que exige adaptação, escuta e coragem para reconfigurar estruturas antigas. A transformação do Direito não está apenas nos códigos, mas em quem os interpreta, aplica e humaniza.

A advocacia híbrida representa a oportunidade de criar uma profissão mais inclusiva, diversa e sustentável. Mas essa mudança só será plena quando as mulheres não precisarem provar que pertencem, porque já estarão liderando.

O protagonismo feminino não é apenas um ideal; é um movimento em curso. E, como todo movimento transformador, ele começa quando uma mulher decide agir e inspira outras a fazerem o mesmo.

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